Plantio Direto e Rotação de Cultura com a Cara do Brasil

Em 1985, dez anos depois de criada a Embrapa Soja, o engenheiro agrônomo Celso de Almeida Gaudêncio colocou em prática uma pesquisa desenvolvida em Londrina que deixava os agricultores receosos: plantar sobre a palhada da lavoura anterior que, por sua vez, havia sido cultivada dentro de um sistema de rotatividade de lavouras. O medo de que o resto da colheita poderia infestar o plantio seguinte com insetos e ervas daninhas caiu por terra com o passar das safras e mostrou que os benefícios são muitos, a começar com o aumento médio comprovado de dez por cento na produtividade.
Passados 25 anos, pesquisadores da Embrapa, juntamente com o já aposentado Gaudêncio, seguem divulgando as técnicas, amparados em novos argumentos: as práticas ajudam na preservação ambiental, no controle natural de pragas, na prevenção à compactação e à erosão do solo, na redução de custos e principalmente na continuidade produtiva da propriedade. ''O plantio direto foi o primeiro passo e a rotação de cultura deu sequência a um trabalho desenvolvido ao longo dos anos e que hoje se tornou hábito nas lavouras brasileiras'', diz o pesquisador Júlio Cezar Franchini. Junto com o engenheiro agrônomo Henrique Debiasi, ele dá continuidade ao trabalho que Gaudêncio desenvolveu na Embrapa em parceria pioneira com a Cooperativa Coamo, na área de manejo de solo e fertilidade.
Segundo Franchini, a principal dificuldade atual é manter a qualidade e a eficiência do sistema de manejo. A pressão do mercado faz com que os agricultores façam a rotação de cultura apenas com soja e milho safrinha, deixando de lado opções de cobertura verde como aveia e azevém. O pesquisador também reclama do ''abandono'' do milho de verão, considerado ótima opção e que, segundo pesquisas, ampliam a produção da soja quando esta volta ao circuito. ''As escolhas atuais do agricultor rendem pouca palhada após a colheita, prejudicando a retenção de água e aumentando o ataque de pragas. Nós tentamos convencê-lo de que variações de cultivares em ambas as estações, podem render até dez sacas a mais de soja por hectare'', explica.
Outro problema identificado por Franchini e Debiasi é a compactação do solo, decorrente da concentração de operações em períodos chuvosos. Nos últimos anos, as colheitas estão cada vez mais concentradas entre janeiro e fevereiro. Além de colher a lavoura e deixar o campo exposto, o uso intensivo de caminhões e tratores sobre o solo úmido piora a situação.
Além de trabalhar na conscientização dos agricultores sobre estes problemas, a Embrapa também vem ampliando ao longo dos anos a estrutura do sistema com experimentos positivos na integração lavoura e pecuária, principalmente nas regiões norte e noroeste do Paraná. A idéia é simples: ao usar cobertura verde garante a proteção e recomposição do solo e ainda oferece alimentação para o gado. ''Levantamentos mostram que o risco de investimento na agricultura chega a 60%, enquanto que na pecuária, é de 40%. Ao juntar as atividades na propriedade, o risco cai para 25%. Os números são tão positivos que iniciamos, em 2006, experimentos com forrageiras tropicais'', diz Franchini, referindo-se ao consórcio entre braquiárias e milho safrinha. Na região entre Maringá e Cianorte, mais de 40 mil hectares já adotaram o consórcio.
Para o futuro, o sistema ideal será o consórcio lavoura-pecuária-floresta, já que o valor da madeira tem aumentado a cada ano no mercado. ''O Paraná sempre foi destaque nacional no desenvolvimento de sistemas de manejo. Um trabalho que começou lá atrás, com o Celso Gaudêncio, e que agora segue com parcerias entre Embrapa, Iapar, universidades, cooperativas e técnicos da Emater'', informa Franchini.
Fonte: www.agropecuarianoms.blogspot.com

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