Nos anos 60, a soja nem aparecia nas estatísticas comerciais externas do Brasil e hoje representa quase 20% das exportações do agronegócio.
Ela avançou espetacularmente, alargando a fronteira agrícola, especialmente na década de 70, com a conquista do cerrado.Neste ano de 2008, devemos colher a nossa maior safra de soja: em 21,8 milhões de hectares, chegaremos a 61 milhões de toneladas. Mato Grosso, com 16,5 milhões será o maior produtor superando o Paraná, com 12 milhões. Em seguida vêm Rio Grande do Sul, Goiás e Mato Grosso do Sul. Mas a soja está em toda parte. Depois de surgir no Rio Grande do Sul, na década de 60, como rotação ideal para o trigo, foi ao Sudeste e hoje está no Tocantins, no Maranhão, no Piauí, na Bahia, em Rondônia, no Pará e crescendo mais. Em São Paulo, é uma das grandes alternativas para a ocupação de áreas de renovação de canaviais, ao lado do amendoim, desde o começo dos anos 70.Há elementos de sobra para justificar a safra recorde: cresce a demanda, especialmente na Ásia, os estoques mundiais tiveram uma pequena queda, e os preços estão elevados, muito acima da média histórica, e com uma boa perspectiva para o ano todo e, quiçá, para o próximo.Por isso, a área plantada de soja este ano no País corresponde a mais de 45% de toda a área plantada com grãos. Claro que ainda falta a contribuição do clima para o recorde ser alcançado. Mas, apesar dos custos terem subido muito, especialmente dos fertilizantes, e do câmbio desarrumado para os sojicultores - especialmente os massacrados pela logística na fronteira agrícola - há otimismo no setor. Os volumes maiores da comercialização antecipada permitiram um bom pacote tecnológico, de modo que o produtor fez a sua parte.O complexo soja representa hoje 19% do total do agronegócio exportado. Em 2008, devemos exportar 30,7 milhões de toneladas de grãos, metade da nossa produção, superando os Estados Unidos que devem ficar em 26 milhões de toneladas e a Argentina, perto dos 11 milhões de toneladas.Mas a outra metade será consumida internamente, e dela, 11 milhões de toneladas serão destinadas à produção de farelo, cuja demanda vem crescendo bastante. Cerca de 50% do farelo que produzimos é consumido pela avicultura e 30% pela suinocultura. O resto também é exportado. Cerca de 90% dos óleos vegetais comestíveis consumidos no Brasil vêm de soja. Aliás, este consumo vai crescer muito nos países em desenvolvimento, cuja renda per capita vem aumentando: nos países ricos, o consumo de óleos comestíveis é de 48 litros/pessoa/ano, mais do que o dobro dos países em desenvolvimento.O biodiesel surge como outra alternativa. A lei que obriga a mistura, já em 2008, de 2% de biodiesel ao diesel, vai exigir a transformação do óleo de soja em biodiesel. Embora haja outras matérias-primas mais indicadas para a produção do biodiesel, como o dendê, ainda não existe volume de produção de matéria-prima para atender a esta demanda, de modo que a soja terá papel determinante no setor, apesar dos preços altos do grão para este ano, que tiram a condição da competitividade com o diesel.Aliás, o que está por trás do espetacular sucesso da soja como cultura no Brasil, é, exatamente, a tecnologia. E a Embrapa é o grande motor deste capítulo. Desenvolve variedades para todo o País, inclusive em parceria com fundações privadas, iniciadas com a do Mato Grosso, e também com universidades, empresas produtoras nacionais e internacionais. A Embrapa é o grande guarda-chuva tecnológico, cuidando até da produção de variedades transgênicas, que hoje já ocupam 60% da área plantada no País, e das doenças, como a ferrugem, para a qual vem buscando variedades resistentes.É claro que existem problemas para a cadeia de soja: a questão tributária é uma delas, porque não há estímulo para agregação de valor. Exportar grão não tem imposto, e trazer soja de outros estados para processar no local da fábrica paga ICMS. Também a logística é um problema, inclusive no escoamento das safras, além do tema da transgenia, ainda em evolução.Mas temos uma condição fantástica de continuar crescendo na cultura, com sustentabilidade, respeitando as questões ambientais e sociais. A soja é um fenômeno.Não é por esta razão que até uma escola de samba, a Tradição, do Grupo Especial de Carnaval carioca levou para a Marquês de Sapucaí o enredo "De sol a sol, de sol a soja, um negócio da China". Olha aí, gente!Roberto Rodrigues - Coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior de Agronegócio da Fiesp e professor de Economia Rural da Unesp/Jaboticabal. Ex-ministro da Agricultura.
Ela avançou espetacularmente, alargando a fronteira agrícola, especialmente na década de 70, com a conquista do cerrado.Neste ano de 2008, devemos colher a nossa maior safra de soja: em 21,8 milhões de hectares, chegaremos a 61 milhões de toneladas. Mato Grosso, com 16,5 milhões será o maior produtor superando o Paraná, com 12 milhões. Em seguida vêm Rio Grande do Sul, Goiás e Mato Grosso do Sul. Mas a soja está em toda parte. Depois de surgir no Rio Grande do Sul, na década de 60, como rotação ideal para o trigo, foi ao Sudeste e hoje está no Tocantins, no Maranhão, no Piauí, na Bahia, em Rondônia, no Pará e crescendo mais. Em São Paulo, é uma das grandes alternativas para a ocupação de áreas de renovação de canaviais, ao lado do amendoim, desde o começo dos anos 70.Há elementos de sobra para justificar a safra recorde: cresce a demanda, especialmente na Ásia, os estoques mundiais tiveram uma pequena queda, e os preços estão elevados, muito acima da média histórica, e com uma boa perspectiva para o ano todo e, quiçá, para o próximo.Por isso, a área plantada de soja este ano no País corresponde a mais de 45% de toda a área plantada com grãos. Claro que ainda falta a contribuição do clima para o recorde ser alcançado. Mas, apesar dos custos terem subido muito, especialmente dos fertilizantes, e do câmbio desarrumado para os sojicultores - especialmente os massacrados pela logística na fronteira agrícola - há otimismo no setor. Os volumes maiores da comercialização antecipada permitiram um bom pacote tecnológico, de modo que o produtor fez a sua parte.O complexo soja representa hoje 19% do total do agronegócio exportado. Em 2008, devemos exportar 30,7 milhões de toneladas de grãos, metade da nossa produção, superando os Estados Unidos que devem ficar em 26 milhões de toneladas e a Argentina, perto dos 11 milhões de toneladas.Mas a outra metade será consumida internamente, e dela, 11 milhões de toneladas serão destinadas à produção de farelo, cuja demanda vem crescendo bastante. Cerca de 50% do farelo que produzimos é consumido pela avicultura e 30% pela suinocultura. O resto também é exportado. Cerca de 90% dos óleos vegetais comestíveis consumidos no Brasil vêm de soja. Aliás, este consumo vai crescer muito nos países em desenvolvimento, cuja renda per capita vem aumentando: nos países ricos, o consumo de óleos comestíveis é de 48 litros/pessoa/ano, mais do que o dobro dos países em desenvolvimento.O biodiesel surge como outra alternativa. A lei que obriga a mistura, já em 2008, de 2% de biodiesel ao diesel, vai exigir a transformação do óleo de soja em biodiesel. Embora haja outras matérias-primas mais indicadas para a produção do biodiesel, como o dendê, ainda não existe volume de produção de matéria-prima para atender a esta demanda, de modo que a soja terá papel determinante no setor, apesar dos preços altos do grão para este ano, que tiram a condição da competitividade com o diesel.Aliás, o que está por trás do espetacular sucesso da soja como cultura no Brasil, é, exatamente, a tecnologia. E a Embrapa é o grande motor deste capítulo. Desenvolve variedades para todo o País, inclusive em parceria com fundações privadas, iniciadas com a do Mato Grosso, e também com universidades, empresas produtoras nacionais e internacionais. A Embrapa é o grande guarda-chuva tecnológico, cuidando até da produção de variedades transgênicas, que hoje já ocupam 60% da área plantada no País, e das doenças, como a ferrugem, para a qual vem buscando variedades resistentes.É claro que existem problemas para a cadeia de soja: a questão tributária é uma delas, porque não há estímulo para agregação de valor. Exportar grão não tem imposto, e trazer soja de outros estados para processar no local da fábrica paga ICMS. Também a logística é um problema, inclusive no escoamento das safras, além do tema da transgenia, ainda em evolução.Mas temos uma condição fantástica de continuar crescendo na cultura, com sustentabilidade, respeitando as questões ambientais e sociais. A soja é um fenômeno.Não é por esta razão que até uma escola de samba, a Tradição, do Grupo Especial de Carnaval carioca levou para a Marquês de Sapucaí o enredo "De sol a sol, de sol a soja, um negócio da China". Olha aí, gente!Roberto Rodrigues - Coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior de Agronegócio da Fiesp e professor de Economia Rural da Unesp/Jaboticabal. Ex-ministro da Agricultura.
Gazeta Mercantil 07/03/08
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